Como lidar com a despedida? Como entender que as necessárias batidas daquele coração não baterão mais ali perto de você, mas sim, para o mundo e para outros que aguardam o retorno desse? E essa pequena sensação de vazio misturada com orgulho por ter vivido experiências inesquecíveis e construtivas? Como lidar? É isso que nos move e que aos poucos vai se tornando transparente e se misturando com novas histórias, outros personagens e outras vivências.
Nessa correria da vida cotidiana perceber que alguém que está ao nosso redor é um ser dotado de conhecimentos e experiências únicas é quase sempre algo distante ou não temos tato para perceber com facilidade. A robotização diária tem nos deixado um pouco insensíveis, será? Pensando nisso, é igualmente raro identificar essa pessoa tal e dizer o quanto ela desperta em você pensamentos que colaboram com o seu intelecto de alguma forma, que te instiga e te faz pensar sobre coisas que você não pararia para refletir num outro momento. Consegue perceber a grandeza desse personagem em sua vida? É como se ele fosse o óleo para sua engrenagem cognitiva e social.
Seria muito egoísta da minha parte querer guardar para sempre uma pessoa com essas características tão valiosas. É o papel dela enriquecer histórias alheias por onde passa. É necessário que ela vá e encontre alguém que capte esse poder que ela tem e faça dos dias dela, dias mais satisfatórios e prazerosos. Dividir momentos com quem tem essa sensibilidade é um caminho sem volta. Você quer topar com 10 na próxima esquina, nos mercados, na padaria e por aí vai. Pessoas que te fazem crescer e que ao mesmo tempo conseguem fazer com que você se sinta grande é algo inexplicável.
Cada um de nós temos algo a oferecer para esses que estão ao nosso redor. Vidas abastecidas de lutas e vitórias, as vezes com mais lutas do que qualquer outra coisa, estão conosco diariamente e não nos damos conta dessa fator. Estamos aqui nesse espaço para viver o que está no script, seguir o roteiro e se for preciso improvisar. E de improviso os brasileiros tem sabido bem como viver, diga-se de passagem. Voltando e pensando dessa forma, todos nós estamos aptos a sermos pessoas incríveis, percebe? A quantos quilômetros estamos correndo para nos tornarmos de fato esse que enriquece o dia a dia de outrem?
Se você está inerte nesse processo que, a meu ver é o que nos torna humanos, munidos de infinitudes e particularidades, sinto informar que algo está errado. Como consegue estar esse ser humano sem noção e apático? Essa necessidade de ser alguém interessante para o alheio deveria começar logo quando nascemos ou no mínimo, no decorrer dessa lida com o mundo externo. Para alguns isso é uma característica que demanda muito esforço e dedicação, já para outros, ser assim é tão natural como a luz do dia, parafraseando CB Jr. Ser acrescentador de boas memórias na vida de um outro é bastante motivador.
Em momento algum quis deixar aqui uma receita de bolo ou uma regra para ser seguida por todos. As vivências vão acontecendo e as pessoas vão colhendo para si o que lhe é favorável. Uma música que o outro jamais pensou em ouvir, a companhia naquela tarde chuvosa, aquele café nem-forte-nem-fraco feito na hora, conversas aleatórias, experiências compartilhadas nessa mesma mesa onde tomam café, uma discordância política, talvez? Tudo isso nos leva a dividir um pouco de nós e somar algo interessante no interior daquele outro. É disso que estou falando, dessa interação com um indivíduo tão rico quanto você. Se a despedida for necessária para que tudo isso dito acima aconteça, só agradeça e torça para pensarem o mesmo de você no dia que tiver que ir compartilhar os seus batimentos com outros.
